A indústria resineira da Chã vem desde há cerca de sessenta anos, quando em 1921 um respeitado chãsense, inteligente e dinâmico, que nesse domínio marcou posição de relevo – Antonino Barata Neves – instalou aqui, de sociedade com seu cunhado João Alves Roda, a primeira fábrica de produtos resinosos.
Essa fábrica de que, entretanto, o diligente industrial se desligara para ir instalar uma outra, exclusivamente sua, em Alvares, viria a ser a precursora de mais três unidades implantadas logo a seguir pelos srs. Manuel Pedro Aleixo, Joaquim Maria Alves e irmãos Manuel Henriques de Almeida e José Henriques de Almeida.
Verificava-se assim, na década 20, que a Chã possuía em laboração periódica, como é óbvio, nada menos de quatro destilarias de resinas.
Estava-se então praticamente no alvorecer duma indústria nacional que chegava até nós desprovida de quaisquer requisitos técnicos ou económicos a favorecê-la, dadas as contingências em que arcaicamente se tinha de desenvolver, desde o método de destilação (por simples alambique) até á exploração da gema (à portuguesa), passando pela inexistência de estradas e meios de transporte condignos e até por um pinhal menos numeroso em relação aos que haveria de vir nas décadas seguintes, tudo isto concorrendo, deste modo e como é evidente, para um índice de menor produção e quantidade dos produtos obtidos – o pez louro e a aguarrás.
Foi talvez devido ao peso de tanta contrariedade que as duas últimas enceraram volvidos alguns anos.
Sobreviveram duas, portanto: as que tinham como proprietários João Alves Roda e Manuel Pedro Aleixo, dois homens dotados de extraordinária actividade e iniciativa, vocacionados para o negócio que, persistindo, souberam vencer – embora o primeiro cedo deixasse o mundo, morrendo prematuramente, em 1933, sem ter podido dar a grande transformação que os tempos e a técnica foram reclamando e que só mais tarde pode ser operada na moderna fábrica que fundara.
Manuel Pedro Aleixo, por outro lado, morreu octogenário (em 1967), mas esse, sim, já no pináculo da obra que lhe foi dado realizar, não obstante os revezes sofridos pelo fogo que, por três vezes, lhe destruiu a fábrica.
Contudo, este châsense de rija têmpera e de ânimo irresistível nunca sossobrou ante esses infortúnios fortuitos que sempre soube contornar com admirável perseverança e tenacidade, assim deixando um modelar estabelecimento industrial (hoje gerido, competentemente, por seu filho, sr. José Pedro Aleixo) que, com o seu congénere referido atrás, dignificam a indústria resineira e honram a localidade (a Chã) onde se acham implantados – realidade viva de quem bem poucas terras se podem orgulhar.
Antonino Barata Neves, por seu turno, industrial excepcionalmente fecundo e de rara capacidade de acção, soube orientar e desenvolver a indústria de tal modo que ao falecer, em 1953, com 64 anos de idade, possuía em plena actividade, além do estabelecimento fabril alvarense, mais dois outros ainda: na Barroca (Fundão) e em Ceira (Coimbra).
Com esta resenha retrospectiva sobre a indústria resineira na Chã e os homens que, talvez em condições adversas mas com o espírito inabalável de vencer, a criaram e a desenvolveram, progressivamente, concluída fica a nossa crónica de hoje.
Aristides Lopes IN (Jornal de Arganil, 19 de Outubro de 1979)