O topónimo Alvares, ao que tudo indica, é o plural do apelativo arcaico "alvar", espécie de carvalho, actualmente designado por alvarinho, sendo então alvares, um lugar abundante em carvalhos, que era o caso na altura da denominação, por volta do século XI ou XII.
"A origem de Alvares perde-se na noite dos tempos, e ninguém sabe exactamente quando nem por quem foi fundada. Os nossos primeiros reis lhe deram grandes privilégios. Teve foral velho. E, mais tarde, na revisão deste, o nosso rei D. Manuel I dignou-se conceder-lhe as antigas honras de vila, refere o Professor Anselmo dos Santos Ferreira, nas suas "Memórias acerca da Vila de Alvares".
"Foi sede de concelho, desde remota época, até à publicação do decreto de 24 de Outubro de 1855. O concelho era constituído pela freguesia de Alvares e pela de Portela do Fojo - criada em 1795."
Do lugar, escreveu o padre Cardoso nos meados do séc. XVIII:
"Vila na província da Beira Arcediago de Penela... tem seu assento num ameno vale entre outeiros. Corre por junto dela a grande ribeira do Sinhel que acaba em um pequeno rio a que se chama Unhais, que se mete no rio Zêzere. De fronte da matriz da vila, há uma fonte a que se chama de S. Mateus, cuja água é muito fria e tem virtude especial contra o mal da opilação. Pelo direito de padroado, é de crer que o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra tivesse tido aqui bens nos Sécs. XII a XIV."
Alvares, antiga vila, entre montes e pinhais. Já foi sede de concelho, até 24 de Outubro de 1855, por decreto de lei foi extinto o concelho de Alvares, passando a freguesia de Alvares a integrar o concelho de Góis.
A origem de Alvares perde-se nos tempos, não se sabendo exactamente quando nem por quem foi fundada.
Os nossos primeiros reis deram-lhe grandes privilégios. Teve foral velho, dado em Coimbra, no mês de Setembro de 1281, pelo Rei D. Afonso III. Mais tarde, em Lisboa, a 4 de Maio de 1514, e na revisão daquele, D. Manuel I, aquando das ordenações Manuelinas, dignou-se conceder-lhe antigas honras de Vila (Livro dos forais novos da Beira).
Em 1762, era vila na correição de Tomar, Estremadura.
Sede de concelho na Beira, em 1821, detinha 492 fogos e 2267 habitantes.
Em 1826, alargou a sua área de jurisdição, tendo agregado a freguesia da Portela do Fojo - criada em 1795 com 104 fogos.
Em 1835, era concelho no julgado de Figueiró dos Vinhos, Beira Baixa.
Em 1842, concelho no distrito de Coimbra, província do Douro.
Em 24 de Outubro de 1855, por decreto publicado, é extinto o concelho de Alvares, passando a freguesia de Alvares a integrar o concelho de Góis.
O rio Sinhel que toma o nome do local onde tem a sua origem, na Serra da Lousã, banha a vila de Alvares. Nos tempos mais recentes dotado com uma represa desmontável, a qual cria uma piscina natural, delícia e prazer de quantos que a frequentam.
A ponte de pedra, que une Cacilhas e o Soito com os seus dois grandes arcos, e que segundo se crê, foi construída em 1858.
A igreja matriz de São Mateus, oferecida a S.Mateus, orago da freguesia, fica situada no extremo sul da Serra do Sinhel, quase no cimo da povoação. A sua arquitectura actual, após obras de reparação e restauro, já nada tem a haver com a arquitectura Filipina de antanho. Na verga da porta principal, está gravada a data de 1616. Mesmo ao lado da igreja existia um cemitério que foi destruído nas segundas eleições após o 25 de Abril. Mais tarde foi construído no local deste mesmo cemitério um jardim infantil, que nos nossos dias se encontra completamente deteriorado.
Nas Corelas encontra-se erigida a escola primária, restaurada há pouco tempo por já ser centenária e considerada monumento nacional.
O antigo edifício dos Paços do Concelho, que se situava junto ao Soito, já não existe, tendo sido objecto de demolição.
O Pelourinho que se encontra junto ao terreno da casa paroquial situava-se há 488 anos atrás no Soito. Este marco servia para aplicar a justiça em praça pública excepto a pena de morte, que naquele consistia em enforcar o culpado. O enforcamento na entrada para a vila para que todos os habitantes "sentissem" a justiça e a temessem, servindo de exemplo para todos.
Ao fundo da vila, da confluência do ribeiro do Caniçal com o rio Sinhel, ergue-se a capela do Mártir São Sebastião, não se sabe a data da sua construção mas sabe-se que foi reedificada em 1804.
Sobre o dorso do bairro da Ladeira ergue-se, desde 1904, o vasto cemitério.
À entrada da vila, situa-se de construção recente, o parque de jogos e o quartel da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Góis. (São obras por concluir, mas é com bom agrado que usufruímos delas)
Não podemos deixar de fazer referência á Pedra Letreira que podemos encontrar nas Cabeçadas. A "Pedra Letreira" é uma rocha que tem várias figuras gravadas, ainda existe um grande mistério sobre o significado das figuras. Uns dizem que se trata de um mapa codificado, e é por isso que os "anciões de Alvares" (se é assim que os podem chamar) dizem que:
"Em frente á Pedra Letreira
Há três minas em carreira:
Uma de ouro, outra de prata
E outra de peste que mata".
Mas ainda não foi provado o que se diz sobre a Pedra Letreira. Até este momento ainda não se conseguiu decifrar o significado dos arcos e flechas misturados com animais, com membros e cabeças humanas e outros tantos sinais geométricos.
Historiadores afirmaram que o principal factor que levou vários povos a habitarem em Alvares foi, a exploração das minas de ouro, prata, cobre e outros metais aqui existentes. Os Romanos chegaram a Alvares por volta de 600 anos d.C. para explorar as minas ricas em ouro da "Escádia Grande", localizadas ao longo da ribeira do Sinhel, junto á Roda Cimeira. Este povo também nos deixou uma grande quantidade de achados arqueológicos, encontrados dentro e em redor das minas.
Por volta de 712 d.C. os Árabes também vieram marcar a sua presença, este que exploraram intensivamente as minas até serem expulsos por D. Afonso III em 1499. D. Afonso III deixou as marcas da sua presença ao plantar grandes áreas de castanheiros, marca tornada quase invisível visto que restam muito poucos castanheiros, outrora trocados por pinheiros que mais tarde foram trocados por eucaliptos, que também já foram devastados pelo fogo.
A freguesia de Alvares começou a ser habitada entre 1700 e 2000 a.C. !
Nos princípios do século XX, a freguesia de Alvares fazia parte da província da Beira Baixa, permutando as malas do correio com um estafeteiro da Pampilhosa da Serra, embora pertencesse, como hoje, ao concelho de Góis.
A ribeira de Sinhel, que toma o nome do local onde tem a sua origem, na serra da Lousã - descrevia bucólico, ao tempo, Santos Ferreira -, pertence à bacia hidrográfica do Tejo e banha a vila de Alvares, quase a meio do seu percurso marginado de hortas no fundo vale, que recende à flor da urze e do alecrim, onde cantam lavadeiras em coro com as noras e o rodízio dos moinhos, ao Sol da continuidade salutar das gerações... O impetuoso marulhar das suas águas de fraga em fraga, a caminho do mar e que os seus numerosos diques não conseguem ter, é a milenária e permanente magia daquela encantadora região beiroa! Uma ponte de pedra que tem dois grandes arcos e que, salvo erro, foi construída em 1858." Atravessa a ribeira, "junto ao Soito, num lugar aprazível onde vegetam frondosos álamos, à sombra dos quais se diverte a mocidade e descansa o viandante."
Na margem direita do Sinhel, ao cimo da vila, existiu uma importante fábrica de lanifícios, especialmente de burel, movida a energia hidráulica, a qual se manteve desde tempos imemoriais. "Do mesmo lado, a fonte de S. Mateus, de água muito fria e que dizem ser boa para curar hidropisias, abastece moderadamente os diversos fontanários locais."
A Igreja Matriz de Alvares, dedicada a S. Mateus, fica situada no extremo sul da Serra do Sinhel, quase no cimo da povoação. É um edifício modesto que sofreu várias modificações através dos séculos. A porta principal, emoldurada nas ombreiras e no arco, ostenta a data de 1616 entre desenhos vegetais. No interior destacam-se o retábulo setecentista, do altar-mor e o altar de S. José, pela sua obra de talha, a qual está bem conservada, apesar de ter mais de trezentos anos. Impõe-se também alguma imaginária da época.
"No fundo da vila, próximo da confluência do ribeiro do Caniçal com a ribeira de Sinhel, ergue-se, desde os longínquos dias de antanho, a capela grande, mas simples, em honra do mártir S. Sebastião, a qual foi reedificada em 1804. (...) Um século depois daquela data, em 1904, foi construído um vasto cemitério, sobre o dorso do monte que, modestamente, ostenta o disperso bairro da ladeira.
A freguesia de Alvares foi rica em castanheiros, que chegaram a ser seculares, mas uma grande moléstia dizimou-os em poucos anos. Na actualidade são os pinheiros que, no seu extenso terreno xistoso, se desenvolvem admiravelmente, sendo a fonte da sua maior riqueza.
Orago: S. Mateus
Área: 102,74 Km2
Altitude máxima: 1172 m
Limites:
Entre N e E: Do marco geodésico Pedra do Lumiar, segue para o de Cabeçadas, seguindo pelo viso até ao marco Entre Capelos. Deste marco, e ainda pelo viso até ao monte que fica a norte de Catraia do Azevedo, inflecte para sudeste (atravessando a EM 112) para o local de Selada do Estreitinho, seguindo depois o viso até Piçarra do Asno. Continua por um caminho vicinal praticamente com a direcção NS (passa à direita de Algares) atá ao marco geodésico do Telhado. Deste marco segue a estrada até junto da povoação da Telhada, continuando por caminho vicinal até ao cimo de Vale Coelho até ao local designado por Alminhas, e ainda até passar a E do marco geodésico de Relveirinho, continuando por caminho vicinal até à Ribeira da Pampilhosa;
Entre E e S: Ribeira da Pampilhosa;
Entre S e W: Ribeira de Mega;
Entre W e N: Ribeira de Mega até à nascente ( a sul do marco geodésico Pico 1º), inflecte para NW por caminho vicinal a E do marco geodésico Neve, para prosseguir por caminho vicinal em direcção a Santo António da Neve, daqui segue o viso, na direcção NE até Porto de Carvalha, para virar para ESE até ao local designado por Cimo do Carvalhal, prosseguindo pelo viso atá ao marco da Pedra do Lumiar.
(Fonte: CCRC-1982)
Estendendo-se para a bacia do Zêzere, na vertente sul dos maciços da Lousã e do Açor, as terras Alvares tem um passado muito antigo.
Em 1219, Mário Paredes Ramos diz que tinha “Carta de Convenção”. *
* Sua palestra na Casa das Beiras, em 5 de Junho de 1960, de que não obtivemos confirmação.
A Herdade de Alvares era pertença do mosteiro de Folques, concelho de Arganil, antigo convento dos Frades Crúzios, provavelmente datado de 1162. Seria doada a Martim Gonçalves e sua mulher Maria Viegas, pelos Cónegos do Mosteiro, para que “fosse roçada”, lavrada e nela plantada vinhas e árvores, conforme regista uma Carta de Foral de Setembro de 1281 (1319 da era de César), e confirmado em Coimbra por rei D. Dinis.
Este foral seria substituído por outro, a mando de D. Afonso V, por alvará de 10 de Abril de 1462, e a pedido dos moradores, por se achar “já velho e ilegível em algumas das partes”. E aqui aparece já a designação de “concelho”.
A Herdade de Alvares era limitada “...a Oriente com o Souto de Santa Maria pela cumeeira entre Carvalho e Pessegueiro, e vai até Unhais e Chã acima do Machio e Martim Viegas, e desce até ao Zêzere, limitando com Álvaro pela corrente do Zêzere, e termina na foz de Unhais, limitando com Pedrogão pela corrente da Marga, donde vai até Cabeça de Pera” (passagem para português corrente da carta de foral, feita por Fernando Costa).
Em 25 de Setembro 1472, D. Afonso V institui, por decreto, o título conde de Arganil, em favor do bispo de Coimbra D. João de Galvão (e, a partir daí, os seus sucessores na catedral conimbricense usaram esse título, sendo conhecidos por “bispos-condes”). Simultaneamente, foi dado ao prior do mosteiro de Folques, D. Miguel Pais da Silva, por deixar de ter a jurisdição em Arganil, o título de conde de Alvares e senhor da vila de Fajão (Pampilhosa da Serra).*
O convento conservaria os senhorios destas duas vilas, nelas tendo jurisdições, colocando alcaides, recebendo jogadas, etc., e todas as vezes que os priores de Folques se deslocavam à vila de Alvares (Góis) era a Câmara obrigada a dar-lhes uma quantia em dinheiro para o jantar.
* Referido por Anselmo dos Santos Ferreira (em Memórias da Vila de Alvares, 1954). Não tivemos confirmação da concessão deste título nobiliárquico, nem do seu uso.
Em 1514, com a data de 4 de Maio, o foral seria renovado e confirmado pelos Forais Novos de D. Manuel I. Estava então inserido na Comarca da Beira.
Em 1762, era vila na correição de Tomar, Estremadura.
Em 1805, a vida municipal encontrava-se já bastante desorganizada, “a ponto de os seus vereadores terem de pagar do seu bolso os défices que houvessem” (Mário Ramos, 1960).
Em 1821, era concelho da Beira, com 492 fogos e 2067 habitantes.
Em 1826, agregou a freguesia da Portela do Fojo (que tinha sido criada em 1795 com 104 fogos).
Em 1835, era concelho no julgado de Figueiró dos Vinhos, Beira Baixa.
Em 1836, o concelho seria extinto por decreto e restaurado no ano seguinte.
Em 1842, seria incluído no distrito de Coimbra, província do Douro, tendo então 582 fogos e 2910 habitantes.
Em 1855, pela Lei de 24 de Outubro, o concelho de Alvares seria definitivamente extinto.
A freguesia de Alvares seria agregada ao concelho de Góis e a freguesia de Portela dio Fojo ao de Pampilhosa da Serra.
Os últimos vereadores da sua Câmara Municipal, Joaquim Baeta de Almeida, presidente, Manuel Lopes Cortez, João Gaspar das Neves Pinto e Manuel das Neves Gusmão, vogais, não deixariam de lavrar o seu protesto, na acta da sessão de 29 de Novembro daquele ano:
“O Presidente abriu e leu um ofício da 2ª Repartição do Governo Civil, com data de 24 do corrente, o qual dá parte que tendo este concelho sido suprimido por carta de Lei de 24 do corrente, passando esta freguesia para Góis e a de Portela do Fojo para a Pampilhosa da Serra, faça esta Câmara entrega por inventário à Pampilhosa de todos os livros e papéis pertencentes ao arquivo. A Câmara ficou ciente e declarou que este concelho devia fazer sentir ao Governo de Sua Majestade a injustiça que se lhe havia feito, pedindo a sua reintegração.”
“Apesar de se dizer que o arquivo deveria ir para Pampilhosa da Serra, há informações de que tinha ido para Góis, onde ardeu por completo, conjuntamente com o de Góis, num grande incêndio. Haverá engano nesta informação?”
(J. A. [Jaime Arnault?], em Acção Regional, de Junho de 1931).
«Nesta minha freguesia há treze ermidas, três das quais são particulares, porque a Ermida de São Caetano, que estã na Vila, foy instituida por Simam Diogo Barreto e Sº António, que também estã na Vila foy instituída por Silvestre Vás e sua mº Lianor Borges, e todos foram moradores nesta Vila e a Nª Sª da Memória do lugar dos Padroens foy instituída por Snr Luís Borges q. foy morador do mesmo lugar; as mais q. a. de Sam Sebastiam desta Vila, a de Sam Pedro de Amioso Fundeiro, a de Sam João das Cortes, a de Sam Domingos de Mega Cimeira a do Espírito Santo de Amioso de Ametade, a de Nª Sª da Conceição da Roda Cimeira, a de Sam António do Casal Novo, a de Nª. Sª da Piedade da Simantorta, a de Santa Margarida da Cham de Alvares, a de Nª Sª de Guadalupe da Amoreira, sam do povo e a nenhuma vem curso de gente por não haver Imagem Milagrosa...
Na Igreja da minha fregª, nem nas Ermidas della nam ha reliquia insígne de Sª ou Sª, que tenha authentica certidam de Roma.
(...) nam há Caza de Misericordia, hospital, nem recolhimento algu.
Nam há Capella, nem sepultura,q. tenha letreyros, nem armas.
Não ha memórias, porque nesta Igª nam há Cartório.
Esta Igreja nam he Collegiada, e por isso nam ha benefícios, nem coadjutores»
(Informações Paroquiais de 23 de Maio de 1721, manuscrito da Universidade de Coimbra, reproduzido pelo Padre Ramiro Moreira em Monografia da Freguesia de Alvares)
Em 1897, José Afonso Baeta Neves descrevia assim a freguesia:
“A freguesia de Alvares, com uma população de 3785 habitantes e 855 fogos espalha-se por uma superfície bastante extensa e irregular, sem todavia apresentar as grandes diferenças de nível que se notam nas outras freguesias da serra. As maiores elevações do concelho, como Trevim, Pedras do Lumiar e Entrecapelos, estendem para esta região os seus contrafortes mas em pendor relativamente suave. Devido a esta circunstância, os vales de erosão são pouco profundos, em geral, de modo que a agricultura pode aproveitá-los não só para a formação de pequenos prados, mas também para a cultura da vinha, em resultado bastante remunerador. Ainda assim, a agricultura é muito menos extensa do que exige a densidade da população. Para corrigir o deficit de recursos alimentícios, efectua-se aqui a emigração periódica e anual, de grandes levas de trabalhadores para as mondas e apanha da azeitona no Ribatejo e ceifas em Espanha, o que, com a sobriedade e economia dos habitantes desta freguesia permite atenuar a escassez do solo.
A população fixa, além da agricultura, entrega-se à fiação e tecelagem manuais de um tecido em lã, chamado burel. A lã provém da província de Trás-os-Montes e o seu fio é áspero e longo. Hoje até esta indústria se encontra em decadência, porque o consumo do burel diminuiu consideravelmente e porque tendo-se estabelecido em Alvares uma fábrica de fiação, por iniciativa de Manuel Barata Lima e outros, a fiação e cardação de lã fazem-se mecanicamente.
Alvares tem estação postal, escolas de primeiras letras para ambos os sexos e ainda uma mista, há pouco criada.
De vias de comunicação tem apenas um começo de estrada municipal a macadame, sem probabilidade de se vir a concluir.”
(Notícia Histórica e Topográfica da Vila de Góis e seu termo, 1897)
E em 1954, Anselmo Santos Ferreira:
“Nos princípios do século XX, a freguesia de Alvares fazia parte da província da Beira Baixa, permutando as malas de correio com um estafeiro da Pampilhosa da Serra, embora pertencesse, como hoje, ao concelho de Góis”
Câmara Municipal e Pelourinho
«O edifício da Câmara Municipal de Alvares situava-se ao centro da vila, hoje pequeno largo, em frente ao café do sr. José Manuel Aleixo de Carvalho. Esse edifício foi demolido há vários anos, dando lugar a esse pequeno largo já referido e à rua que o liga á rua principal. O edifício da Câmara era formado por uma sala, num andar superior, e duas divisões térreas, que serviam de cadeia para homens e mulheres.
Depois de extinto o concelho de Alvares, este edifício funcionou como escola primária, durante muitos anos, para o sexo masculino, e depois foi o posto clínico do partido médico de Alvares.»
(…)
«O pelourinho de Alvares era de estilo manuelino, arte ou estilo próprio da época. Devia ter ser construído, como era hábito, em frente da Câmara Municipal, tribunal e cadeia, donde emanava o poder judicial.
O pelourinho de Alvares conheceu vários locais e presentemente está no largo do Soito, numa esquina do muro que passa. Talvez por isso reste apenas uma simples coluna cilíndrica de uns dois metros de altura.
O prof. Anselmo dos Santos Ferreira diz que, por motivo de um acidente de viação motorizada, o pelourinho partiu-se e a parte superior foi mandada fixar à terra junto da casa onde vivia seu pai, prof. Manuel dos Santos Ferreira, Presidente da Junta 1, ao fundo da vila.»
(Padre Ramiro Ferreira, em Monografia da Freguesia de Alvares, 2001)
Produção de burel
A freguesia de Alvares foi outrora um centro produtor de burel de extraordinária importância que paulatinamente se foi extinguindo, devido talvez aos processos arcaicos como era fabricado, por um lado, e, por outro lado, ser já de reduzido gasto este tecido grosseiro, cinzento-acastanhado com que se manufacturavam as capuchas (havia de dois feitios e eram largamente usadas em toda a vasta região das Beiras) e capotes, que tinham a sua preferência um pouco por todo o lado.
Essa indústria artesanal, de grande projecção e desenvolvimento para a época, de que viviam muitas famílias, pois movimentava centenas de pessoas, sobreviveu, pode dizer-se, até aos primórdios do século XX.
Não havendo outras indústrias, era o fabrico de burel, portanto, o ramo de actividade que mais seduzia os homens de negócios deste meio alvarense.
Além de outras, eram a sede do concelho (Alvares), Cortes, Mega, Casal Novo e Casal de Cima (Chã), as povoações que dispunham de fiar e tecer o burel, embora num trabalho manual que passava por várias operações e envolvia a ocupação técnica de muita gente.
Na impossibilidade duma descrição mais desenvolvida, como bem desejaríamos, vamos apenas dar uma pálida ideia dos vários aspectos sobre o tema em apreço.
A lã por aqui então produzida era muita, mas, apesar disso, era manifestamente insuficientemente para as necessidades, pelo que os fabricantes tinham que a importar na sua maior parte, indo eles próprios nas suas mulas (muitas vezes com as libras escondidas nas albardas e os alforges cheios de farnel) comprar grandes quantidades a Trás-os-Montes e Alentejo, especialmente, e Bragança e Évora, onde se demoravam um ou dois meses de verão, depois da tosquia.
Geralmente a lã era lavada nas áreas da sua procedência e só depois disso é que era transportada para aqui em carros de bois, antes da viação acelerada e até do próprio caminho-de-ferro existirem.
Chegada a lã, iniciavam-se então as várias fases da sua preparação para o fabrico do burel, que consistiam: Escolha extracção das impurezas; cardação, por homens com pequenas cardas de mão, sendo o azeite de oliveira o óleo que lhe aplicavam; a fiação, por mulheres e raparigas, à roca ou à roda, produzindo esta um som característico de ainda hoje se fale de uma pessoa tagarela, que está a fia à roda; a urdidura, em dobadoira especial donde saía a teada para as tecedeiras que, por último, transformavam o fio em pano estreito, se era para capuchos, um pouco mais largo, se destinado a capotes.
Dos teares, que eram manuais obviamente (ainda conhecemos um duma senhora idosa, ali no Vale das Cerejeirinhas), o burel era submetido ainda a outra operação, a da pisoagem, em pisão hidráulico.
A última fase acabamento terminava no estendadoiro, para enxugar, e só então era enrolado numa espécie de sarilho que, em peças de cem varas, lhes dava a forma de queijos enormes, na sua maior parte em grande escala, diremos mesmo, destinadas à exportação para o Alentejo e vendido pelos negociantes ou mesmo pelos fabricantes que percorriam grande parte do país.
Pelo que particularmente toca a Chã de Alvares, sabe-se que aqui existiram sempre numerosos industriais e negociantes deste produto lanígero, que era o burel. O seu uso e comercialização foi decaindo, no entanto, com o tempo, foram desaparecendo também os que a essa actividade se dedicavam.
Sobreviveram os Ladeiras, que atraídos por este ramo de negócio que vinha dos seus antepassados, o continuaram até ao seu declínio total, no princípio deste século. Individualmente foram eles: João Lopes Ladeira, Manuel Maria Lopes Ladeira, Joaquim Lopes Ladeira e um primo deste, Manuel Lopes Ladeira, que, à excepção do primeiro, ainda bem conhecemos.
Por vezes verificavam-se algumas desinteligências entre os fabricantes alvarenses para conseguirem o trabalho feito, e das questiúnculas havidas entre uns e outros e, sobretudo, com a Câmara deste concelho de Alvares, reza o documento que se segue: (Resolução de Sua Majestade, a Rainha, e do Ministério do Reino, do Paço de Sintra, datada de 12 de Julho de 1842, anulando uma contribuição de cento e cinquenta réis incidente sobre cada arroba de lã importada pelo concelho de Alvares para consumo das fábricas locais).
(O Varzeense, Maio de 1989)
Ainda se encontra de pé a chaminé da fábrica de Manuel Barata Lima, em Alvares, encerrada em meados do século XX, por muitos considerado o “ex-libris” da povoação.
Comissões de Melhoramentos
Foi na freguesia de Alvares que se formaria a primeira colectividade regionalista do concelho, concretizando um movimento que parece ter origem nos inícios da década 20, contemporâneo dos que despontavam nos outros concelhos da Beira Serra.
Não seria uma colectividade de âmbito geral, cobrindo a freguesia, como viria a suceder noutras freguesias do concelho. Contudo, na década de 40, algumas vozes propunham a fusão, numa única Liga, das cinco colectividades mais activas na época, asde Alvares, Amioso Fundeiro, Chã, Cortes e Roda Cimeira.
E, mais tarde, em 1988, verificar-se-ia uma tentativa de criação de uma Federação Regionalista da Freguesia de Alvares, agrupando todas as colectividades, chegando a haver reuniões preparatórias e elaboração de estatutos, em torno de objectivos definidos: “Desenvolver a freguesia nos seus aspectos sócio-culturais e sócio-económicos; reforçar a vertente regional das colectividades regionalistas, por forma a conseguir a sólida-riedade de todos os naturais; fomentar o cooperativismo, (...)”.
Tal propósito não viria a ser aceite pela generalidade das colectividades da freguesia. A criação de uma federação, com o objectivo de aquisição de força na união, era contrária ao sentimento que desde o início tinha envolvido o movimento regionalista. Era colocar a razão acima do coração, substituir o romantismo pelo materialismo, passar do regionalismo para o Regionalismo (ver “Algumas coordenadas do movimento”, p. 43).
As Comissões de Melhoramentos que se constituíram nesta freguesia foram:
1928 Sociedade de Melhoramentos de Roda Cimeira
1929 Sociedade de Melhoramentos de Amioso Cimeiro
1930 Comissão de Melhoramentos de Cortes
1933 Comissão de Melhoramentos de Relva da Mó
1934 Comissão de Melhoramentos de Roda Fundeira
1935 Comissão de Melhoramentos de Amioso Fundeiro e Lomba
1937 Liga de Melhoramentos de Chã de Alvares
1941 União Progressiva de Amioso do Senhor
1944 Comissão de Melhoramentos do Povo de Amieiros
1946 Comissão de Melhoramentos de Mega Cimeira
1946 Liga de Melhoramentos da Telhada
1947 Comissão de Melhoramentos de Alvares
1950 Comissão de Melhoramentos de Obrais
1950 Comissão de Melhoramentos de Simantorta
1951 Comissão de Melhoramentos de Algares
1953 Comissão de Melhoramentos de Amiosinho
1953 Sociedade de Melhoramentos de Casal Novo
1956 União Progressiva de Milreu e Povoações Limítrofes
1978 Comissão de Melhoramentos de Estevianas
1983 Comissão de Progresso Amigos da Coelhosa
1985 Comissão Os Amigos de Fonte Limpa
Não foram consideradas as Comissões de Melhoramentos de Mega Fundeira e de Varzina, que encontramos referidas na imprensa e em documentos antigos, por nos parecer tratar-se apenas de intenções, sem se ter verificado a sua concretização.
A Associação Recreativa Alvarense que, durante parte do tempo da sua actividade, teve uma componente de âmbito regionalista, é referida no historial da Comissão de Melhoramentos de Alvares.
Evolução demográfica
Os dados da população residente que os censos nos indicam, confirmam uma contínua queda da população da freguesia a partir de 1940, até final do século, com decréscimo acentuado nas décadas de 50 e 60:
Anos Residentes
1920 4436
1930 4331
1940 4667
1950 4222
1960 3456
1970 2270
1981 1626
1991 1279
2001 1007
Povoações que, ao longo do século XX, tiveram mais do que uma centena de habitantes:
Cortes
Alvares
Casal de Cima
Roda Cimeira
Mega Cimeira
Casal de Baixo
Amieiros
Amioso do Senhor
Amioso Fundeiro
Amioso Cimeiro
Simanorta
Roda Fundeira
Telhada
Carrasqueira
1911 1940 1960 1970
673 725 723 308
360 373 256 214
294 325 281 158
219 238 143 101
160 191 136 92
158 152 97 53
148 81 72 67
139 162 123 77
138 97 57 51
132 152 120 116
121 125 86 52
118 161 121 103
106 93 74 50
102 135 124 82
Cortes, que nos inícios do século XX tinha uma população praticamente idêntica à da sede do concelho, tem vindo, ao longo da segunda metade daquele século, a aumentar o seu peso relativo na freguesia: de 15-16 % nas décadas 40 a 60, a sua população atingiria, em 2001, 25 % do total da freguesia.
Bibliografia de Referência
Memória acerca da vila de Alvares, de Anselmo dos Santos Ferreira, 1954, Coimbra, Tipografia Comercial.Monografia de Freguesia de Alvares do Concelho de Góis, de Padre Ramiro Moreira, 2001, Lisboa, Olegário Fernandes - Artes Gráficas, S. A.